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Crítica: Azul é a Cor Mais Quente (2013)

by on novembro 23, 2013
 

Você achou que Shame (2011) tinha cenas quentes? Bem, sim, tinha, mas Azul é a Cor Mais Quente (La vie d’Adèle no orginal) deixa as picantes cenas daquele longa parecendo algo pudico. O diretor tunisiano Abdellatif Kechiche é um sujeito que tem como marca registrada em seus trabalhos mostrar o sofrimento de seus personagens a partir de tomadas longas e torturantes, muitas vezes passando esse sentimento ao espectador também.  E em Azul é a Cor Mais Quente isso ocorre com força. Fica a dica para os sensíveis e os facilmente ofendidos não irem ver esse longa, lembrando que a censura desse é para maiores de 18 anos. Apesar da polêmica das cenas de sexo bem gráficas desse filme, essa  história de amor moderno é algo que conversa com todos, que tiverem dispostos a ver, claro. É possível se envolver tanto? E como prosseguir depois disso?

Essa obra, vencedora da Palma de Ouro desse ano, conta a história da adolescente Adèle (interpretada por Adèle Exarchopoulos) que se enamora por Emma (Lea Seydoux), uma jovem um pouco mais velha e  dona dos cabelos azuis que dão nome ao filme e aos quadrinhos/graphic novel de Julie Maroh, que inspiraram o filme. Vale falar que a autora não curtiu o filme por achar as cenas sexo desse longa muito gratuitas, apesar de entender que alguns possam achar isso, não acredito que isso tire o valor da adaptação.  Nessa provocante história acompanhamos as duas moças durante dez anos de seu tumultuado romance. Vemos como Adèle lida com o achado de sua sexualidade, como as pessoas a tratam após o descobrimento de sua homossexualidade e como seu relacionamento com Emma têm vários altos e baixos. A cinematografia utiliza-se de muitas close-ups, uma técnica que nos permite mergulhar nas performances maravilhosas das protagonistas, por trazer uma intimidade forçada, a agrura de muitas cenas é reforçada por esse recurso, reforçando a empatia do público com o par. É um filme genuíno, afetuoso e de quebrar o coração.

Um épico mesmo sendo um filme de pequeno orçamento, essa é uma obra francesa que traz várias declarações pertinentes sobre a sociedade, arte e costumes. É muito acertado ser um par de lésbicas, pois entra em choque direto com seu país de origem, a França, onde em pleno 2013 tivemos uma marcha contra o casamento gay, um retrocesso incompressível na chamada Cidade Luz, que foi o centro do Iluminismo.  Algumas cenas poderiam ser mais curtas, inclusive as tão faladas cenas eróticas, pois muitas vezes elas já passaram a mensagem dramática e prosseguem mesmo após terem comprido o seu papel. E para finalizar de vez sobre o sexo no filme, apesar de extenso, é algo tão real, tão puro que não entendo como pode haver aqueles que comparam com simples pornografia. Agora sobre os outros momentos “prolongados” nessa obra, nada contra o respiro do cinema europeu, que tem o costume de ter planos mais longos. Entretanto em Azul é a Cor Mais Quente temos alguns, poucos, momentos que incomodam devido a suas demoradas “reflexões”, ainda mais por ser um filme tão longo, três  horas, todavia não é nada que estrague a experiência. Em compensação, apesar de minha reclamação anterior, temos belos momentos de silêncio nesse filme, algo quase proibido no cinema norte americano que costumávamos devorar constantemente. Outro recurso interessante é como a passagem de tempo é tratada nesse filme, nada de cartelas avisando quanto tempo passou, o avanço temporal é refletido na tela por cortes de cabelo e pequenos detalhes, algo que enriquece a narrativa e respeita a inteligência do espectador.

É incrível ver que a relação de Emma e Adèle é montada de um jeito tão realista que é impossível prever para onde ela vai. Abdellatif Kechiche filma de um jeito que nos faz sentir como se estivéssemos no mesmo local que os personagens. Para entender o quão notável é o que esse filme conquista, é preciso comparara-lo a outras histórias de amor. Em outros filmes temos os problemas jogados aos personagens e então estes os resolvem. Os problemas que o casal Adéle e Emma passam nascem de suas personalidades, não são exteriores. Em nenhum momento alguma situação parece forçada ou falsa.  O longa move-se num ritmo que lembra a vida real e termina de um jeito que o deixara com muito para falar depois. É um dos melhores filmes do ano que irá te mostrar muito sobre amor, relações e sexualidade, independente de qual seja a sua.

Nota: 4/5

Trailer do filme

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