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20 anos de Super Metroid! Uma ode ao poder da solidão nesse clássico do Super Nintendo!

by on maio 7, 2014
 

Solidão – estado de quem está só, retirado do mundo; isolamento. Ermo, lugar despovoado e não frequentado pelas pessoas: retirar-se na solidão.

Quem joga videogame normalmente está acostumado a ter companhia, de um jeito ou de outro. Seja via seu amigo como o segundo jogador, aliados online de esquadrão, sidekicks, companheiros de equipe, NPC´s (personagens que não podem ser jogados), etc. A maioria dos jogos tem mais de um personagem interagindo com você porque isso é útil para a narrativa e a perspectiva de design. Seja para dar dicas e fornecer tutoriais, seja parte da mecânica do jogo, seja um save point ou coisa que o valha, games sempre tem várias razões para incluir um personagem para se comunicar com o jogador. Como prosseguir em Zelda: Ocarina of Time, na primeira vez que se joga, sem o auxilio de Navi? Há modo de dar os primeiros passos em Paper Mario: The Thousand-Year Door sem a falação de Goombella ? Como seguir em frente em Sonic 2 sem a ajuda e o avião de Tails? Bioshock Infinite seria praticamente impossível sem a intervenção de Elizabeth, não é mesmo?  E há milhares de outros bons exemplos da importância de um bom elenco em um jogo.

Então, solidão, não interagir com outros seres, pode ser algo positivo para um game? O jogo de 1994 da Nintendo, Super Metroid, para o lendário Super Nintendo, é um bom exemplo de como a solidão pode ser usada a favor de criar um ambiente único para um jogo sem atrapalhar o design e o progresso do mesmo.

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A tela incial desse clássico moderno.

Primeiro, vamos analisar como Super Metroid, carinhosamente chamado de “Metroid 3” entre os fãs hardcore, estabelece o sentimento de solidão:

– Não há NPCs dispostos a se comunicar.

– Você esta preso num planeta desconhecido, cheio de formas de vida alienígena e repleto de situações hostis.

– A atmosfera é tensa, a música e o som captam perfeitamente o sentimento de desolação e ameaça.

– Até mesmo Samus Aran, a protagonista, fica quieta o jogo inteiro. O que faz sentido, pois não há ninguém para ela conversar, certo?

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A arte usada na caixa orginal da versão do Super NES.

E o que faz Super Metroid funcionar? É um jogo que te dá poder. Samus é tão poderosa e tão autossuficiente (Oh Deus, o que fizeram com ela em Other M? Ok, isso é tema para outro dia) que a caçadora de recompensa não precisa de nenhuma ajuda, não importa a situação. E o game é projetado de uma forma tão inteligente que Samus vai ganhando mais poderes gradualmente, podendo assim encarar aos poucos os desafios superiores.

O que o jogador ganha com isso? Substância. Super Metroid entende qual é o melhor jeito de realmente capturar a sensação de estar preso em um planeta alienígena, fazendo assim que o jogador sinta que tudo é estranho, não familiar. Sem outros personagens aliados para te dar dicas ou conversar, tudo depende apenas de você mesmo.

O desafio também é um fator em destaque em Super Metroid. A solidão pode até ser algo desejado por algumas pessoas, contudo nem os mais solitários desejariam estar em um ambiente onde tudo conspira para seu fim. Não espere nada que te de referências de como matar um chefe ou que de repente surja um aliado para lutar ao seu lado (Ok, há uma exceção…). O jogo te dá o poder, mas cabe a você aprender a utiliza-lo e criar uma estratégia para usa-lo da maneira mais eficaz. Assim, o jogo cria uma conexão com a Samus como poucos jogos já conseguiram criar. Quem irá achar o corpo da caçadora num local tão desolado? Quanto tempo até notarem a morte da heroína caso você falhe?

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O embate final entre Samus e Mother Brain. O que segue após esse combate é um dos melhores desfechos de todos os tempos.

Imersão é o que ocorre em Super Metroid. Normalmente um jogo com diálogos ruins, personagens secundários irritantes, dubladores terríveis ou simplesmente com situações fora do contexto quebram a imersão do jogador no game. Também é comum que o excesso de história e dicas fornecidas por tutoriais ou NPCs, tanta informação “pré-mastigada” para você, acabe com a diversão de descobrir as coisas por conta própria. Super Metroid deixa o jogador interpretar tudo a seu modo. As formas de vida alienígena, especialmente aquelas não humanoides, mexem demais com a imaginação do jogador. Um jogo atual que cria essa imersão tão bem, de modo diferente, mas no fundo um tanto parecido, é a franquia Souls, seja o Demon Souls ou o primeiro Dark Souls, assim como o recém-lançado Dark Souls II.

Não quero dizer que todos os jogos tenham que ser uma experiência insular, de solidão, claro que não. Super Metroid consegue algo único e a partir de um sentimento normalmente dado como negativo, a solidão. A partir desse sentimento, o jogo passa uma gama de experiências para o jogador e aprimora a jornada, principalmente no caráter de exploração. Sei que Super Metroid não é o único game da franquia que explora a solidão, o primeiro Metroid Prime (Game Cube), por exemplo, também faz isso muito bem. Contudo, em Metroid Prime a função de scanear o ambiente e os inimigos fornece um bocado de informações que auxilia o jogador, tirando assim aquela sensação do não familiar.

No outro lado do espectro temos Metroid: Other M (Wii), um jogo que desistiu totalmente do principio de solidão e tentou uma experiência mais cinematográfica, o desastre é bem conhecido por todos. Ok, ele se salva um pouco na jogabilidade, um pouco, mas falta a essência de um verdadeiro Metroid.

Super Metroid é o exemplo de narrativa sem palavras. Tirando o texto inicial, que é apenas um resumo do primeiro e do segundo Metroid, não há mais nenhuma palavra escrita ou dita no jogo. Sem contar que toda a composição do jogo funciona. A direção artística, tanto nos gráficos, como na música, só reforçam o sentimento de solidão. Há muitas variações de luz no ambiente, o que torna cada sala única e a música, mesmo sendo na maior parte do tempo minimalista, funciona como uma punhalada, principalmente nos embates contra chefes. Os ambientes diferentes e os novos poderes são os elementos que te passam a ideia de progressão nesse game.

Acertando em tantas áreas, tratando o jogador com inteligência e o deixando explorar o que quiser e tendo um lado artístico tão rico, são motivos que levam Super Metroid estar sempre entre os primeiros lugares de várias listas de melhores jogos de todos os tempos. Entretanto, acredito que a grandeza do jogo está em como esta obra lida com a solidão, desafiando e imergindo o jogador em seu estilo único.

Trailer da versão do eShop do Wii U.

E o que vocês acham? Acreditam também que a solidão é o ás na manga de Super Metroid? Claro que jogabilidade perfeita e exploração também fazem parte, todavia acho que esse é o segredo dessa grande obra da Nintendo. Se você já jogou essa belezura deixe se palpite nos comentários. Caso contrário, não perca tempo e vá logo jogar, o game está disponível no eShop do Wii U e via outros métodos mais escusos também. E viva aos 20 anos de Super Metroid e que venham muito mais aventuras de Samus Aran! Para mais sobre esse clássico confiram a matéria do Maze sobre Super Metroid AQUI. Por enquanto é só pessoal, bora de fazer um minuto de silêncio em respeito a velha Samus (piada tosca obrigatória) e inté!

 

Ps.: Para comemorar um pouco mais os 20 anos de Super Metroid, não deixe de conferir a trilha do jogo, numa versão orquestrada, feita por William Lawson. Para baixar a trilha completa vá AQUI (nada de “salvar como”, apenas clique e baixe lá no Media Fire).

 

comentários
 
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  • Michael
    maio 7, 2014 at 11:09 pm

    Super Metroid é, na minha opinião, o melhor jodo de SNES! Já zerei várias vezes e sempre q posso volto a jogar pois é maravilhoso

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  • Rafael Moni
    maio 8, 2014 at 12:20 am

    Eu não acredito que só tem um comentário num post tão bonito! Sou um dos que considera metroid o melhor jogo de todos os tempos, não importa a versão ou vídeo game, estará sempre em meu coração! ;’)

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  • Igor Levi Araújo
    maio 8, 2014 at 12:57 am

    Quando Samus ganha um novo poder, por exemplo, aquele que corre, carrega e pula, existem aqueles animais que ela segue. Porém ela não se comunica de forma alguma com eles. Eles agem independentes das ações dela e ela apenas observa para fazer igual. Muito lindo esse texto, adorei jogar Super Metroid, todas as 4 vezes.

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  • Rodrigo Areias
    junho 17, 2014 at 11:48 pm

    Parabéns pelo texto. Este game é mesmo extraordinário!

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  • DJ _X_ leitinho
    julho 21, 2014 at 5:37 pm

    Super Metroid!

    Pra mim é SIM um dos 3 maiores jogos de todos os tempos.
    Foi A REVOLUÇÃO na sua época. Não existia nada parecido em termos de jogabilidade, gráficos e estratégia.

    Me recordo que o item que mais demorei pra encontrar foi o Gancho (Grappling Beam)… quando achei, foi a maior festa! Comemorei demais! Eu jogava na casa de uma tia minha, e aos finais de semana, reuníamos maior galera que grudava o olho na tela da TV e assistia como se tivesse jogando junto comigo. Cada novo item encontrado era aquela comemoração, pois a inteligência aplicada nesse jogo era à frente do seu tempo, quem jogava sabia que encontrar novos itens permitiria conhecer novas passagens e encontrar mais novos itens.

    Tempos que não voltam mais, onde um único jogo era capaz de fazer eu nem dormir direito na noite anterior só pensando em “onde utilizar tal item” ou “como abrir tal porta” ou “como encontrar itens escondidos” ou “como destruir tal chefe” e muitas outras alternativas que na época só Super Metroid podia oferecer.

    E os últimos itens pra poder chegar nos 100%… Naquela época num tinha Youtube não! Só depois de alguns meses vc lia algum detonado em alguma revista de games. Nossa! Época boa!

    Aliás, tudo o que eu conseguia descobrir no SM só me deixava mais curioso pra continuar jogando mais e mais. Foi um jogo realmente espetacular. E tem gente (poucos por sinal) que nunca gostou porque tem preguiça de pensar, e esse jogo na época exigia lógica e inteligência. Pra seguir adiante em Super Metroid você obrigatoriamente teria que saber o que tava fazendo e utilizar o item certo pra coisa certa. Super Metroid definitivamente não era pra qualquer um.

    Até hoje jogo Super Metroid e recentemente apanhei jogando o Hack “Super Metroid Redesign”, que se encontra pra download em vários sites por aí. Baixei, gravei o ISO em CD (dentro do jogo SNES STATION) e joguei no Play 2 que ainda tenho guardado aqui e jogo de vez em quando.
    A versão Redesign é simplesmente fantástica. O mapa de Zebes é gigantesco, umas 10 a 15 vezes maior. Tem muito mais itens escondidos, e portas e postes de cores diferentes pra vc abrir com mais tiros ou outra arma. Além de coisas diferentes como “Guardiões Chozo” escondidos, que vc se mata pra achar, e se não achar todos, vc não consegue entrar em Tourian. Eh muito bacana.
    O único contra de “Super Metroid Redesign” é que o jogo é DIFÍCIL DEMAIS e exige muitos dias (ou semanas) pra que vc consiga salvar pela primeira vez. Mesmo pra um cara que zerou Super Metroid com 100% em menos de 3 horas (meu caso), a versão Redesign é embaçada demais!
    Mas recomendo. Quem é fã de SM tem que jogar SM Redesign. Fica mais legal se vc tentar jogar sem apelar pro Youtube, mas eh como eu falei, eh muito difícil, eh quase certo que vc vai travar numa parte e vai ter que apelar pros vídeos.

    Bom, voltando ao clássico Super Metroid (ou Metroid 3) sem dúvida qualquer lista de maiores games de todos os tempos ele tem que estar no Top 10, senão a lista não tem credibilidade.

    (Só vim descobrir que Samus era mulher na época quando salvei em menos de 3 horas e 100%… hahahahhahahahahaha.. até nisso o jogo inovou, um final diferente dependendo do desempenho)

    Então, feliz de quem teve o prazer de se deliciar jogando Super Metroid na época, e podem se dizer privilegiados pois esse é um game que ficou no coração de quem jogou e zerou.

    PARABENS PELOS 20 ANOS SUPER METROID!
    PARABENS SAMUS, ETERNA HEROÍNA!

    Abraxx a todos.

    _X_

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  • @higgor_quemoreno
    maio 18, 2018 at 5:14 am

    Primeiramente excelente análise cowboy, captou o sentimento de super metroid na risca. Agora segundamente:

    Jogar super metroid é uma experiência parecida com ver fotos de marte. A mais pura desolação. E é incrível como o jogo não força a barra, tentando te assustar ou te emocionar (tirando o clímax do final claro): ele é como a solidão de fato, muito natural. Você caminha por locais ermos, a esmagadora maioria das formas de vida encontrada é selvagem (ou seja, está ali vivendo e só te ataca se vc chegar muito perto), e como vc está sozinho apenas imagina, tanto você mesmo quanto samus. Sem climões desnecessários ou músicas carregadas, super-metroid apenas quer que vc sobreviva só e caminhe. E por fim o final funciona muito bem já que a desolação total do game cria todo um sabor de anticlimax que contracena com as emoções fraternais fortes do encerramento. Quem já se sentiu sozinho alguma vez na vida vai se identificar e amar.

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