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La La Land, o filme que conquistou Hollywood, vale o hype todo em torno de si?

by on janeiro 26, 2017
 

“So bring on the rebels

The ripples from pebbles

The painters, and poets, and plays

And here’s to the fools who dream

Crazy as they may seem

Here’s to the hearts that break

Here’s to the mess we make”

“La La Land – Cantando Estações” é uma história de amor arrebatadora. Entretanto, não é o romance entre os personagens de Ryan Gosling e Emma Stone o verdadeiro foco da narrativa ou o que realmente prende quem vai ao cinema acompanhar essa jornada sobre paixões. O que pega o espectador de jeito é a dedicação dos personagens a seus sonhos e suas carreiras.

O musical já começa com uma cena mais Los Angeles impossível: um engarrafamento na hora do rush. Claro que o que desenrola nas telonas não é bem o que acontece na vida real, mas o propósito desse filme é esse: fugir da realidade. Mais do que você está acostumado a ver nas produções atuais. Aliás, a cena de abertura, praticamente desconexa do resto do filme, já dá o tom que vem pela frente: belas imagens, cantoria, direção competente e muita energia, mas tudo isso sem muito pé no chão.

O filme nos mostra Sebastian (Ryan Gosling), um pianista de jazz que anda mal das pernas, e Mia (Emma Stone), uma garçonete que tem o desejo de ser uma grande atriz. Ele não tem nem um tostão para pagar suas contas, mas quer ter seu próprio bar de jazz. Ela trabalha numa cafeteria de um estúdio de cinema e entre os turnos de sua jornada de trabalho exaustiva, tenta a sorte em várias audições, não importando o papel. E os altos e baixos por trás do percurso desses sonhadores é o que vemos na telona.

A belíssima música “Audition (The Fools Who Dream)”

Segundo o compositor de La La Land, Justin Hurwitz, os filmes que inspiraram “La La Land” foram os musicais americanos da década de 30, mais especificamente: “Cantando na Chuva”, “A Roda da Fortuna”, “O Picolino” e “Ritmo Louco”. Sem contar os franceses “Os Guarda-Chuvas do Amor” (1964) e “Duas Garotas Românticas” (1967). E o que isso interessa a você intrépido leitor? Ora, vendo as influências de “La La Land” fica claro que o filme é uma homenagem a uma época mais simples, mais inocente, mais sonhadora e mais musical.

“La La Land” curiosamente se diferencia dos filmes em que se inspirou ao fazer com que o maior objetivo de seus protagonistas sejam suas carreiras e não o amor. Mostrando bem a mudança de perspectivas e objetivos da sociedade, principalmente para as mulheres, dos anos 30, 40, 50 e 60 para os anos 2000. Infelizmente, ninguém vive só de amor e o aluguel é caro, certo? Esse é um filme de tentar ao máximo antes de se conformar. Mas não no quesito de se conformar com um parceiro qualquer, e sim com um emprego qualquer.

Essa nova produção do jovem e grande cineasta Damien Chazelle, diretor do fantástico e subestimado Whiplash (muito melhor que a produção em análise por sinal), deveria vir com um pequeno aviso em cada ingresso: “Esse é um filme sobre sonhadores e para sonhadores. Se você acha esse discurso manjado e enfadonho, nem ponha os pés no cinema.”.

Pessoalmente acho que La La Land é um bom filme. Bom, não é a cura de todos os males como muitos vem proclamando. Stone está muito bem nas partes musicais, Gosling manda bem no piano (ele aprendeu a tocar só para o papel e toca mesmo nas diversas partes musicais do filme), certos diálogos são geniais (destaque para sequência que envolve o sucesso dos anos 80 “I Ran”), os protagonistas possuem uma química bacana e algumas músicas são grudentas (tente tirar “Another Day of Sun” de sua cachola).

Acredito que um dos problemas do filme é que ele é daqueles musicais das antigas mesmo, onde as pessoas cantam sem muito contexto e nem todos os momentos musicais impulsionam a história para frente. Ok, nem tudo precisa ter motivo e faz bem ter um momento onírico ou outro, como os protagonistas voando no espaço sem explicação. É a magia do cinema. O que chega a incomodar é que há várias situações “mágicas”, que comem tempo de motivações dos personagens (não vemos a tal peça da Mia por exemplo, só a reação do público).

Arte de Ryan Secora

Implicâncias bobas a parte, vamos ao maior problema do longa: o filme parece ser duas produções brigando em uma só. Uma sendo um musical de décadas atrás querendo brilhar e a outra seria um filme sobre a lenta morte do jazz e a música descartável de hoje em dia, quase um “Whiplash 2: O Que Aconteceu com o Jazz?”. Muitas vezes essas narrativas não se casam e acabam sacrificando o desenvolvimento e/ou a beleza da outra. Mesmo eu sendo chato e pegando no pé do filme, ainda acho que os diálogos sagazes, a química dos protagonistas e certas músicas do longa valem o ingresso.

De qualquer modo, não deixe de ver “La La Land” onde ele deve ser visto: nas telas do cinema. Hoje em dia, o hype do filme é quase impossível de ser alcançado, ainda mais depois de a obra estar concorrendo em 14 categorias do Oscar, compartilhando com “Titanic” e “A Malvada” esse recorde maluco. E por que diabos o filme está sendo tão celebrado por Hollywood? Oras, não existe nada que Hollywood ame mais do que a si mesmo. E um filme que celebra a busca em ser um grande artista de cinema é tudo que o pessoal da Academia quer ver. Quer um Oscar? Fale bem da indústria cinematográfica.

Contudo, o que realmente importa para curtir o filme é se você tolera musicais. Vá sem muita expectativa e se deixe surpreender por essa jornada retro que busca a beleza e esperança das décadas passadas. Puro escapismo no mais exuberante musical. Deixe a lógica em casa, abrace a suspensão de realidade e seja feliz.

Trailer do aclamado “La La Land – Cantando Estações”

Ps: Sabia que Emma Watson, a eterna Hermione, recusou o papel de Mia em “La La Land” pois as gravações entravam em conflito com o novo “A Bela e Fera”? E Ryan Gosling recusou o papel de Fera para poder viver Seb, também conhecido como Sebastian, no filme que conquistou o interesse do Oscar em 2017. Curioso, não?