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Oscar 2015 – Críticas dos concorrentes – Parte 03 – Selma e Whiplash

by on janeiro 25, 2015
 

Terceira parte da matéria sobre os filmes que concorrem o prêmio de melhor filme em 2015 (e Foxcatcher…). Vamos para mais dois concorrentes:

 

Selma – Uma Luta pela Igualdade

 

Mais um drama biográfico na corrida pelo Oscar de Melhor Filme. E, assim como Sniper Americano, é outro filme altamente criticado por modificar os fatos verídicos. Antes de começar a análise, acho importante deixar claro que essas produções são obras de ficção, não documentários que tem um compromisso maior com a verdade. Ver um filme de ficção esperando que não haverá alterações para aumentar o drama, adição ou omissão de personagens e até mesmo cenas que nunca ocorreram na vida real, seria inocência por parte do espectador. Com isso em mente, vamos prosseguir com a resenha.

Mudança é algo que sempre tem seu preço. Essa cinebiografia do pastor protestante e ativista social Martin Luther King, Jr (David Oyelowo), acompanha as históricas marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana. Sim, é aquele protesto de 1965 que foi tão marcada pela violência policial e mudou para sempre o cenário político e civil norte americano. E, por incrível que pareça, essa é primeira biografia cinematográfica dessa importante figura dos Estados Unidos. Quem diria, não?

A diretora e co-roteirista Ava DuVernay, ela escreveu a partir do trabalho de Paul Webb, encara a dura realidade dos fatos ocorridos na década de 60 nos EUA sem frescuras. O filme já abre tocando em assuntos como identidade cultural e mostrando uma terrível tragédia, algo que, nas mãos da competente DuVernay e do diretor de fotografia Bradford Young, se torna um momento de arrancar o coração e mostra o quanto o preconceito é algo injustificável e cruel.

Selma é um filme baseado em eventos históricos que nunca passa a sensação de vazio ou sem vida. É um longa que mostra as dificuldades que os organizadores e os cidadãos comuns passaram ao planejar e executar as marchas pelos seus direitos. DuVernay se mostra discreta e vigorosa na hora de mostrar a violência em sua obra, enfatizando o horror da situação, mas sem exagerar na dose. Não há nada sanguinolento ou explicito em Selma, entretanto você sentirá o peso de cada violência que ocorre na tela.

O principal pilar do filme é a atuação poderosa e crua de David Oyelowo, uma interpretação digna para Martin Luther King Jr. É algo que permite compreender um pouco das motivações e da racionalidade desse grande homem. Ver o sofrimento que King passou em mandar pessoas para situações perigosas e ter que posar para as câmeras dos “Estados Unidos Branco”, para acalmar parte da nação, é algo que poucas pessoas abordam e dá uma grande profundidade ao personagem. Sem contar que Oyelowo se parece muito com o pastor ativista, o que só aumenta a credibilidade do filme. O longa não exagera no sentimentalismo e acerta em mostrar Martin Luther King como um ser humano de verdade, eles não santificam o pastor, apresentando seus acertos e seus erros.

E não podemos esquecer de Carmen Ejogo como a mulher de King, Coretta Scott King. Ela é absolutamente fantástica e fornece a complexidade necessária à personagem. E há a presença de Oprah, sim a ex-apresentadora Oprah Winfrey, no longa em um papel discreto. A cena de sua personagem tentando votar é comovente.

Selma é um primor na cinematografia, contudo o grande destaque são os discursos. Se você gosta de frases de impacto e pessoas com eloquência esse é o filme para você. O que é de cair o queixo é pensar que os realizadores do longa não tiveram autorização de usar os discursos originais de Martin Luther King. Produzir algo tão poderoso quanto ao que essa figura histórica disse é um grande mérito do roteiro.

Essa obra mostra um dos momentos históricos mais importante dos Estados Unidos e deixa aberto discussões sobre preconceito em qualquer país, sendo uma obra importante de ser vista por todos, independentemente da época. Não é uma recriação perfeita do que ocorreu, porém faz o mais importante, passa a importância dos fatos e a sensação de que a segregação é algo que nunca deve ser repetido.

Nota: 4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

Whiplash: Em Busca da Perfeição

 

O jovem ambicioso e arrogante Andrew Neyman (Miles Teller) de 19 anos sonha em ser o melhor baterista de jazz de sua geração, mas a concorrência é muito grande. Atormentado pela carreira fracassada do pai como escritor, Andrew anseia dia e noite por se equiparar aos grandes gênios da música. O objetivo desse baterista é tocar nas orquestras lideradas pelo reverenciado Terence Fletcher (J.K. Simmons), um professor rigoroso e exigente. Quando isso acontece, a paixão de Andrew por atingir a perfeição rapidamente se converte em uma obsessão, enquanto seu professor implacável continua a pressioná-lo ao limite da sua capacidade — e da sua sanidade. É uma batalha psicológica entre duas personalidades muito fortes.

Junto com Sniper Americano, é a surpresa do Oscar 2015. Com diálogos rápidos e espertos, ótimas performances de Miles Teller e J.K. Simmons e com um ritmo acelerado e vigoroso, esse é um drama psicológico que te deixará boquiaberto, ainda mais para os fãs de boa música. Mas não se engane, mesmo tendo como pano de fundo a busca pela perfeição musical, esse é um filme de personagens, e o inevitável conflito entre Andrew e Fletcher é destaque da obra. E, claro, a paixão de Andrew Neyman pela música e a dificuldade de expressar esse sentimento é outro fator que move o filme. É algo que irá gerar identificação imediata por quem tem dedicação por alguma forma de arte.

As duas performances principais são incríveis, como dito anteriormente. Essa é uma obra que sabe explorar as almas dos personagens. Contudo, J.K Simmons é quem rouba o show. Encarnando o cruel e boca suja Fletcher, Simmons grita, xinga e grita até dizer chega, parecendo um instrutor militar. Mesmo sendo exagerado em alguns momentos, essa atuação captura, diverte e irrita o público. Pô, os xingamentos do cara estão entre os melhores da história do cinema. “Não há duas palavras que causam mais dano do que ´bom trabalho´” é com essa filosofia que Fletcher resume seu método. O professor acredita que o medo é o maior incentivador para o sucesso, e ver o sujeito exercendo essa filosofia é algo desagradável e fascinante.

O filme se beneficia bastante do ótimo jazz como trilha sonora e a edição é criativa e energética. Já a última hora de filme é muito satisfatória e o final é espetacular. Sem deixar qualquer facilidade para o espectador, não dá para saber se o talento despertado nesses garotos é fruto da loucura de um homem ou algo capaz de surgir com dedicação dentro dos limites do bom senso. Os fins justificam os meios? Veja esse drama que explora um bocado do subconsciente e tenha sua resposta. Se deleite com essa ótima obra que o jovem diretor Damien Chazelle, de apenas 29 anos e em seu segundo longa, dirigiu com muita competência e energia. É um filme que traz a atmosfera e a imprevisibilidade do mundo do jazz, com imagens marcantes e, graças a constante ambiguidade, surpreende a todo momento. É um tributo ao som e à fúria. Recomendadíssimo.

Nota: 5 out of 5 stars (5 / 5)

Não deixe de conferir as outras partes dessa matéria:

Oscar 2015 – Críticas dos concorrentes – Parte 01 – Sniper Americano e Foxcatcher

Oscar 2015 – Críticas dos concorrentes – Parte 02 – O Jogo da Imitação e O Grande Hotel Budapeste

Oscar 2015 – Críticas dos concorrentes – Parte 04 – Boyhood e Birdman

Oscar 2015 – Críticas dos concorrentes – Parte 05 – A Teoria de Tudo e O Conto da Princesa Kaguya

Crítica – Como Treinar o Seu Dragão 2

Crítica – Os Boxtrolls

Crítica – Operação Big Hero

Por enquanto é só e até mais!

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