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Crítica – Persona Q: Shadow of the Labyrinth (Atlus, 3DS, 2014)

by on novembro 26, 2014
 

Persona 3 e Persona 4 foram os games que transformaram a franquia Shin Megami Tensei: Persona em uma série de peso da Atlus. Mas será que esses dois jogos com narrativa centrada nos personagens combina com o estilo de exploração interminável dos dungeons de Etrian Odyssey? E de onde surgiu essa combinação inusitada? Ora, do novo jogo publicado e produzido pela Atlus, o crossover spin-off Persona Q: Shadow of the Labyrinth, que junta os elencos de Persona 3 e 4 com a jogabilidade de Etrian Odyssey. Esse novo game é um exclusivo do Nintendo 3DS, portátil que nunca recebeu um game da franquia Persona antes. Aliás, os games Persona só haviam dado as caras até então em consoles da Sony. Vai entender o que se passa na cabeça da Atlus, não é mesmo? De qualquer modo, esse jogo é bom? Bora conferir.

Persona Q possui duas histórias, ou melhor, duas opções de ponto de vista da história. Você pode escolher o caminho de Persona 3, P3, onde o principal é o mal humorado P3 Hero/Makoto Yuki, ou ir pelo caminho legal, o de Persona 4, P4, onde o principal é o descolado P4 Hero/Yu Narukami. Se bem que isso só fará uma diferença maior apenas no capítulo inicial do jogo, antes do elenco desses dois games se encontrarem. Independente de sua escolha, os colegiais japoneses vão parar num mundo paralelo, durante os dias de festival da escola. Uma versão bizarra do colégio Yasogami está repleta de shadows e os personagens estão presos nesse local. Ao conhecerem uns personagens misteriosos, os heróis decidem investigar o local e ajudar as novas figuras a recuperarem suas memórias, já que eles parecem ser a chave para sair dessa estranha situação. Ah, a história do jogo é canon, apesar dos pesares.

Como era esperado nesse estranho crossover, a história do jogo é praticamente fanservice. É uma chance dos fãs reverem suas figuras favoritas mais uma vez. Principalmente no caso de Shinjiro e uma outra figura, já que, bem, entendedores entenderão. Os personagens têm suas características mega exageradas em Persona Q. Chie é ainda mais obcecada com carne, Akihiko só fala de treinar e proteínas, Yukiko ri de qualquer bobeira, Mitsuru (a melhor garota) é super linha dura… Falta a profundidade dada a essas figuras em Persona 3 e Persona 4, porém essa abordagem mais caricata é justificável pois Persona Q foca mais na comédia do que os games originais, tendo também espaço para um pouco de drama nesse game. O texto e as situações apresentadas nesse game portátil são divertidos na maior parte o tempo e até bem elaboradas. Só não espere desenvolvimento na personalidade dos personagens de P3 e P4.

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O gigantesco cast de Persona Q. Mas infelizmente o povo da Velvet Room não são jogáveis.

Mesmo com as travas de ser uma história no meio dos games de Persona 3/Persona 4, e já tendo sido dito que não há desenvolvimento para o elenco desses games, podemos ver evolução na dupla inédita e exclusiva desse game, o moreno Zen e a comilona Rei. Esses dois desmemoriados, um clichê típico dos JRPGs, são quem levam a narrativa de Persona Q para frente. Os grupos de P3 e P4 unem forças para explorar dungeons e mais dungeons para ver se no fim disso tudo há uma resposta para a falta de memória dos novos personagens e um jeito de cada grupo voltar para seu mundo e local no tempo. Ah, Persona Q não tem spoilers para as histórias de Persona 3 e 4, por incrível que pareça. Então se você não jogou um dos dois (ou os dois, tudo é possível né?) pode embarcar nessa jornada sem medo.

E os Social Links? Ih rapaz. Apesar de que você tem que esquecer os Social Links nesse game, ainda há alguma interação com os membros de sua equipe. Entre as dungeons você pode visitar a Velvet Room. Nesse local bem conhecido pelos fãs da franquia, é possível comprar itens, curar seus personagens e interagir com os mesmos, usando a opção Stroll (“Passeio”). Essas são sequências divertidas que mostram a interação os personagens de Persona 3 e 4. Em Stroll, o principal escolhido pode selecionar algumas frases especificais para mudar os acontecimentos, nada muito profundo, entretanto é bem escrito e cobre, um pouco, a falta dos Social Links. Ênfase no “um pouco”. Se bem que ver a robótica Aigis dando fora sem perceber no pervertido Teddie não tem preço.

É bom deixar claro que tu irá passar a maior parte de Shadow of the Labyrinth nas dungeons detonando monstros. A exploração dessas áreas é bem Etrian Odyssey, o que pode causar um estranhamento em quem está mais acostumado com o sistema de Persona. Cada calabouço tem vários andares e culmina numa luta contra um chefão. Cada andar é um labirinto que deve ser explorado pelo jogador. Caso a área seja explorada por completo, pode esperar ser recompensado muito além do normal. E chegar a caminhos sem saída pode dar ao jogador uma recompensa valiosa, uma hilária cena dos personagens lamentando a situação ou uma dica para uma sidequest. E para isso é preciso que você faça seu próprio mapa. Sim, algo inusitado para quem nunca viu um Etrian Odyssey, meio contra intuitivo no começo, mas extremamente viciante mais adiante.

Todo calabouço tem um quebra cabeça no meio do caminho. Os inimigos F.O.E.´s são os responsáveis por tal desafio. Eles aparecem no mapa e sempre arrumam um jeito novo de atazanar o jogador. Eles só podem ser derrotados em condições especiais, habilidades únicas e dão variedade ao jogo.

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O elenco do melhor Persona, essa não é uma crítica parcial, fazendo poses dignas de JoJo’s Bizarre Adventure

As sidequests, que foram citadas anteriormente, consistem em achar certos itens, derrotar um inimigo com algumas restrições, resolver discussões entre sua equipe, manipular certos aspectos da dungeon, etc. Fazer isso pode ser meio cansativo às vezes, mas a recompensa vale a pena, pois é bastante experiência para todos no seu time ou um equipamento raro.

Os combates são parecidos com Persona 3 e 4. Parecido, não igual. Você atinge um inimigo com a fraqueza dele e a criatura não será capaz de completar seu ataque, sem contar que seu personagem ganha um “boost” (e não o costumeiro “extra” da série Persona). Nesse game a magia é escassa (SP), então é preciso utilizar bem o esquema de “boost” para sobreviver nas dungeons. Tendo o boost é possível usar habilidades sem gastar SP, pense bem nisso na hora de desenvolver sua estratégia e montar seu time ideal.

Personas são a manifestação do verdadeiro eu dos personagens e criaturas que permitem os heróis utilizar magia e ter habilidades fantásticas. As Personas tem papel importantíssimo nesse game, como era de se esperar. Cada personagem tem sua Persona tradicional, entretanto é possível anexar uma Persona diferente a ela. Isso não apenas implementa o número de habilidades dos personagens, como fornece alteração de status. Até as personagens apenas de suporte, Fuuka e Rise, também entram na brincadeira. Investindo nas combinações ideias, é capaz de você quase nunca gastar SP a partir do meio do jogo.

O jogo tem um elenco enorme e você só pode utilizar cinco personagens em sua equipe. É capaz de você manter uma equipe principal na maior parte do jogo, mas o sistema de anexação de Personas permite até mesmo um personagem de nível mais baixo ser útil mais pra frente no jogo. Então não tenha medo de experimentar novas combinações em seu time.

A arte “chibi” do jogo me incomodou um pouco no começo, porém tenho que admitir que o jogo tem seu charme e essa nova direção artística combina com o potencial mais limitado do portátil da Nintendo. A apresentação, os menus, os cenários e os personagens funcionam numa perfeita harmonia e capturam de vez o jogador no mundo de Persona Q. A trilha é fodástica, variando entre as excelentes composições de Persona 3 e Persona 4, sem contar algumas novidades. Para quem já curtia as músicas de Shoji Meguro, Persona Q: Shadow of the Labyrinth já vale só pela trilha musical. E olha que ainda vem um jogo junto, quem diria?

Uma das músicas chuta bundas de Persona Q, o J-Pop com “engrish” bizarro, “Maze of Life”! Diferente e sensacional!

O game é bem difícil e é assim que os fãs de Shin Megami Tensei gostam. Não tenha vergonha de ir na dificuldade fácil se as coisas estiverem complicadas. E mesmo no “easy” com um equipamento ruim ou sem Personas em bons níveis ou fusões decentes, tu vai dançar. Eu consegui encarar o normal a duras penas, e para ir no difícil adiante só sendo masoquista. Porém, o mais importante é o seguinte, ignore o modo “seguro” (safety), pois se você quiser jogar algo sem penalidades de morte ou voltar para o começo de uma dungeon, é melhor ver alguém jogando Persona Q no You Tube.

Um JRPG com dificuldade alta, quase 60 horas de jogatina, bastante exploração e trilha fantástica. Às vezes um tanto repetitivo, exige um bocado de paciência e possui uma história nonsense. Pelo menos o elenco é extremamente carismático. Se você for fã de Persona, vale cada centavo, e se curtir JRPGs vale o risco. Contudo, se for sua primeira empreitada nesse gênero, é melhor começar com um jogo mais simples. Recomendado.

Nota: 4 out of 5 stars (4 / 5) (Provavelmente seria 3 se eu não fosse tão fã de Persona 3 e 4)

Trailer de Persona Q: Shadow of the Labyrinth

Confira nossa outras críticas de games para 3DS: Pokémon Omega Ruby e Alpha Sapphire, Shantae and the Pirate’s Curse, Azure Striker Gunvolt, One Piece: Unlimited World Red, Tomodachi Life, Kirby: Triple Deluxe, Professor Layton vs Phoenix Wright: Ace Attorney e mais.

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